Do lado dele deixei de sorrir. Sem ter onde cair morto, eu carreguei ele nas costas. Deixei de ir na minha ioga, mas pagava a academia dele. Eu não tinha internet pra mim, mas contratei o serviço porque afinal ele, como era autônomo, não podia ficar sem: como é que ia conseguir trabalho? O fato é que nem assim conseguia, talvez porque passasse o dia inteiro vendo putaria online e filmes na NET. Sim, eu pensei em cortar meu plano, mas ele, que já estava deprimido, me chantageou dizendo que só ficaria pior se nem pudesse ter aquela distração nos dias em que o trabalho não aparecia. Nunca apareceu, é claro. E o pior, no ano em que moramos juntos, posso contar nos dedos as vezes em que transamos. Ele parou de tomar iniciativa e eu perdia a mínima vontade cada vez que chegava em casa e encontrava copos e pratos quebrados ou então me deparava com um cara raivoso, que só sabia me cobrar mais e mais. Que invejava os amigos bem-sucedidos e tomava todo o meu uísque importado. Que fazia contas e mais contas que eu já não tinha como pagar. A gota d’água foi uma janela quebrada, em um ato total de descontrole. Com tanta porcaria que ele fazia, tentava ainda por a culpa em mim. Ah… tudo tem limite. Pena que deixei chegar nesse ponto. Espero ter aprendido. Na verdade, eu é que fui louca de ficar com um louco desses! Mandei ele se tratar (bem longe de mim) e confesso que é um alívio estar hoje sozinha. Não preciso nem de uma notícia boa para ser feliz – vivo contente apenas por não chorar todo santo dia!
Este é o início de uma série de textos curtos sobre coisas absurdas de homens absurdos que nos aparecem. Fatos que já nos fizeram chorar e que hoje rendem boas risadas! Contribuições são bem-vindas: todas estão convidadas!
Foto: Scott Adams/Stock.xchng