Romance carioca: 1,84 de altura e três frases de honestidade

Romance-cariocaEstava no mar de Ipanema, quando ele perguntou:

– Você é gaúcha?

Respondi que sim. Ele disse que adora o jeito que a gente fala, já tinha estado no sul, em Curitiba. Era longe e fazia frio. Eu disse que Porto Alegre ficava mais longe e fazia mais frio. Conversamos quatro horas e nos beijamos. Saímos da água e jantamos. Ele era educado, bonito: um príncipe marítimo. Eu não tinha feito esforço nenhum, havia sido encontrada dentro d’água! Mas eis que a primeira frase aconteceu:

– Então, gata, adorei conhecer você e quero seu telefone. “Acontece” que amanhã tá vindo uma mineira ficar comigo, isso está agendado há um mês, antes de eu conhecer você. Vou passar o final de semana com ela, mas ligo pra você depois porque quero te ver.

O príncipe derreteu! Eu disse que dava meu telefone, mas não ia pegar o dele. Se quisesse, que me ligasse! Passados três dias, toca o telefone:

– Oi, gata. Acabei de deixar a mineira na rodoviária e quero ver você!

Eu enrolei, disse que não podia. Como ele insistiu, fomos a uma festa dias depois. Ele parecia uma centopeia. Não sei de onde saía tanta mão! Eu tava resistindo, até que pensei… Vou embora em duas semanas, mereço um pouquinho de diversão! E que diversão! Era pura eletricidade!

Continuamos saindo sem compromisso. Ele tinha terminado um relacionamento, tava só curtindo, por isso a história da mineira. Eu estava lá a trabalho e numa situação parecida. Não tinha cabeça pra romance. Mas me acostumei a dormir na casa dele no final de semana. Jantamos em Copacabana, tomamos banho no Arpoador às duas da manhã.

Por motivos de trabalho, trocaram meu voo e eu fiquei mais três semanas. Foi quando a segunda frase veio à tona:

– Então, gata… você foi ficando, eu saindo com você, porque adoro sair com você… Mas como disse, não estou pra compromisso. E na próxima semana, vem uma baiana… Isso tá agendado…

O mesmo papinho. Fiquei tão pasma que decidi que não ia mais sair com o mané. Ele insistiu. Eu não resisti. Na véspera de a baiana chegar, dei uma surra no cara que o máximo que ele conseguiu fazer com ela foi dar beijinhos. Em outras palavras, o churrasco ganhou do acarajé.

Seguimos saindo. Acordávamos e almoçávamos salada czar com batata rostie, tomávamos milk shake em copo com dois canudinhos, namorávamos na Lagoa Rodrigo de Freitas, vimos o sol nascer no Leme. Ele era lindo, gostoso e me deixava com tesão só em sorrir!

E mais uma vez eu caí da cama no meu sonho. No último final de semana na Cidade Maravilhosa, ele diz:

– Vou fazer tudo o que você quiser: sábado e domingo sou todo seu.

– Mas e sexta à noite? – fui inocente em perguntar.

– Sexta à noite eu tenho que encontrar com uma canadense que veio me ver, mas como toda semana eu tô saindo com você…

Ele jantou com a canadense e me ligou: fomos a uma festa e, na volta, ele me disse:

– Tenho a impressão de que quem está voltando pra casa sou eu, porque você deixou minha vida de outra cor, parece que era eu que não tava em casa. Foi tudo diferente. Eu fazendo umas sacanagens, pensando que você ia parar de sair comigo e você aceitando esse meu momento SEM VERRRGONHA (os “erres” são por causa do sotaque), e eu gostando cada vez mais de você…

Choramos, transamos, tomamos banho e ele me levou no Cristo Redentor. E pra minha surpresa, quando voltei pra casa, ao ver nossas fotos, eu não me reconhecia, tava tão linda, tão diferente, era tão “outra pessoa”. Não sei dizer se fui uma idiota ou uma corajosa, não sei como terminar essa história. A única verdade é que ele deixou o Rio mais lindo com a sua doce e honesta companhia.

 

Foto: Victor Santos/Stock.xchng

O “de sempre”

Certa vez, reclamando da minha solterice, uma amiga lembrou que nunca estou sozinha: sempre tenho o “de sempre” para dar uma saidinha. O “de sempre” é aquele que está ali para a hora que precisamos e que nos serve para dar carinho e prazer, basicamente. Já tive um “de sempre” que durou nove anos. Sim: nove! Fui namorada, depois amante, depois ficante, ele voltou a ser meu amante e depois nos tornamos ficantes novamente. Tudo assim, bem tranquilo.

Tive um outro “de sempre” que foi um caso ardente e durou alguns meses. Era tão intenso que eu transpirava só de vê-lo. Todos os nossos amigos sabiam da história, mas a gente nunca se tocava publicamente, apesar de estar sempre perto um do outro. Uma coisa de pele, de química. Já experimentei também o “de sempre” virtual. Depois virou carnal. Dias juntos se comendo, conversando, discutindo, mas nada era sério. Não havia regras nem compromisso. Tive ainda o “de sempre” semanal: uma vez por semana estava lá jantando fora, curtindo um motel, horas de prazer e ótima conversa.

E como tudo nesta vida tem seu lado bom e ruim, o “de sempre” é somente uma pessoa que ronda a nossa vida, mas não faz parte dela. Não pode haver cobrança de nenhuma das partes e normalmente só os bons momentos são compartilhados. Para alguns, podemos contar nossos problemas e angústias e podemos ser boas ouvintes também, mas geralmente nunca passa disto.

Para quem não tem tempo nem para si, um “de sempre” vale muito a pena. Ficamos com a parte boa do relacionamento, e na manhã seguinte já estamos de volta à nossa vida de solteira, com nosso trabalho e a nossa própria companhia.

O-de-sempre

Foto: Galeria fotografii, Projekty Logo, Grafika/Stock.xchng

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