Autoanálise

AutoanaliseAfinal quem somos nós? Ou o que acham que somos… Digo, nós: mulheres 25+ (em prol das amigas que ainda não chegaram nos 30), independentes, que moram sozinhas, bem sucedidas ou remediadas, enfim, que pagam suas contas sem precisar de ninguém. Às vezes somos confundidas ou entendidas como mulheres frias, fáceis demais, festeiras demais (também chamadas de fubangas).

Peraí! Por favor, tentem nos conhecer antes de tirar conclusões precipitadas. E não me venham com este papo de que as mulheres de hoje não querem compromisso, que não cola! Acredito que boa parte, pelo menos muitas das que eu conheço, quer na verdade a sorte de um amor tranquilo… às vezes nem tão tranquilo, mas enfim um grande amor.

Ok! Um pouco clichê, mas o desejo é sincero. Podemos ter já feito muita festa, ficamos sem compromisso (na verdade o sem compromisso raramente é um desejo real, pelo menos da nossa parte). Mas são fases que passam, não queremos isto para vida toda. Lendo o outro post, Como não se apaixonar, é uma missão quase impossível, até acredito que possa acontecer, mas acho bem difícil. Não adianta, a gente cai direitinho. Tenta se fazer de “tô nem aí”, “eu sou mais eu’, mas se o telefone não toca começa a frustração. Fica aquela coisa, “quando foi que botei tudo a perder mesmo?”…

Não que a vida da gente gire em torno dos homens, que a gente não consiga viver sozinha. Queremos ter uma profissão legal, há muitas outras coisas na vida, mas queremos também compartilhar coisas boas e ruins. Sabe, ter aquele alguém especial, dormir abraçada; muito melosa, pode ser, mas é bom, todas nós sabemos. Lembra da música? “Quando um certo alguém…é melhor não resistir e se entregar…” Até as mais duronas se rendem em algum momento e acabam concordando.
Mulheres independentes, sim, mas também não somos de ferro!

 

Foto: Anna H-G/Stock.xchng

Que saudade dos meninos!

O Paulo acabou de sair aqui de casa. Ele? Não, não é meu namorado, nem ficante, nem peguete, ao contrário do que se poderia esperar. Não, não fizemos sexo, nem brincamos de azarar: durante uma hora, jogamos conversa fora, acompanhados de uma cerveja. O Paulo é meu amigo.

Ué, mas existe essa história de homem e mulher serem amigos? Sei lá, tem gente que diz que não – eu discordo. Desde a infância fiz parte de turmas mistas, formadas por meninas e meninos. Foi o mesmo no segundo grau (era como chamavam o nível médio, gurizada) e na universidade. Tive amigos incríveis, daqueles que guardam segredos e são capazes de dar uma opinião honesta sobre nós e nossos dilemas. Não, eles não eram gays (bem, só alguns deles). Sim, eu beijei a maioria. Mas isso não impediu que continuássemos amigos. Algumas amizades inclusive começaram assim, ou se tornaram mais íntimas justamente pelos beijos trocados.

Foram-se os anos, o colégio, a faculdade. Os melhores amigos se mantiveram. Veio a profissão, e dei a sorte/azar de trabalhar sempre em meio à mulherada. A galera de antigamente foi tomando outros rumos. E calhou que, depois dos 30, me vejo quase que exclusivamente cercada por mulheres. Amigas e amigas de amigas, queridas e imprescindíveis. O problema é que acostumei a ter os meninos por perto, a contar também com as opiniões masculinas sobre o mundo, a vida e a profundidade do meu decote.

Sei que alguns amigos foram para não voltar, levados por vontade própria ou por uma mulher ciumenta – daquelas que não acreditam que possa haver amizade assim. Com os demais, embora não os veja com frequência, procuro manter a ilusão da proximidade, seja no MSN, no Orkut ou em cervejas esporádicas. Por que é tão difícil ter amigos homens depois dos 30? Por que qualquer nova aproximação, depois dessa idade, fica parecendo jogo, cantada, azaração?

Amigos-meninos, eu estou com saudades de vocês.

PS: quem inspirou esse post foi o Cafa, que não acredita em amizade entre homens e mulheres. Não conhece o blog do Cafa? Garimpa aqui.

 

Imagem: BSK/Stock.xchng

Bebês aos borbotões

Vem o Zé e me diz: “Ficar com mulher na faixa dos 30 é complicado… parece que todas vocês estão loucas pra parir!”. É, foi assim mesmo, a seco, que meu doce amigo tocou no assunto, tão complicado para a maior parte de nós, mulheres de 30 (e poucos).

Vou dizer o quê? Mentira não é. Até uns dois anos atrás, só uma entre as amigas próximas tinha filhos. Agora a gente espirra e surge um barrigão pela frente. A temporada de chás de fraldas já superou a de casamentos e formaturas (ah, bons tempos em que as formaturas faziam a agenda da estação!). Entre quem não tem prole, o assunto está sempre na pauta. Fulana quer ter, beltrana está tentando, sicrana ainda precisa achar um pai.

Bebes-aos-borbotoesO que não é justo, Zé, é vocês não entenderem o nosso lado. Toda mulher tem um reloginho por dentro, com um ponteiro que corre vertiginoso em direção aos 35 – idade mágica, o fim da linha para ter o primeiro bebê de forma segura. Tem também a cobrança social; a ginecologista, a psicóloga, a mãe, as amigas e até o papagaio nos perguntando: “Tá, e aí, vai ter filhos ou não?”. E os sonhos, ainda existem os sonhos: temos ideias idílicas de uma familinha perfeita, marido, filhos, cachorro e uma casa no subúrbio. Nem me prolongo no instinto maternal, que a palavra “instinto” já diz tudo.

A adolescência se expandiu, a vontade/necessidade de construir uma carreira tomou nosso tempo, a incompetência para manter relações estáveis adiou nossos planos. Chegamos aos 30 (e poucos), e o tempo subitamente começou a jogar contra. Ao contrário dos meninos, não podemos mais postergar a maturidade, é agora ou nunca. Não pense, Zé, que nós estamos “loucas pra parir” agora, justo agora. O que nos falta é opção.

Um último lembrete: também não é certo, meu amigo, dizer que todas estamos assim. Tenho amigas que nunca quiseram bebês em suas vidas. Outras decidiram há pouco tempo não ter filhos, ressalva feita se o príncipe encantado fizer esta exigência. Há também quem gradativamente perceba que não é possível brigar com a biologia e o destino: se não der, paciência, que esta não vai ser a única meta não realizada na vida.

Eu, que não gosto de pressões, sejam sociais, biológicas ou existenciais, arranjei um jeito de fugir da raia. Vou ficar esquentando a cabeça com a idade? Que nada. Com tanto bebezão precisando de mãe por aí, vou mesmo é pegar pra criar.

 

Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo/Stock.xchng

Verde musgo

Todas as quintas elas vão sempre ao mesmo bar, mas nesse dia ela sugeriu para as amigas aquele outro bar, onde os garçons não sabem o nome delas – e os frequentadores também não. Hoje ela quer flertar, como nos velhos tempos. Mesa escolhida a dedo, perto da porta, para ver quem entra e quem sai.

Até lingerie especial ela colocou, vai que rola, né?! A escolhida foi aquela em verde musgo, que combina com o tom da pele dela.

Eis que depois de algumas ótimas risadas e algumas cervejas, entra um cara, o cara. “Meu número”, ela diz. “Bem teu tipo mesmo”, afirma uma das amigas. E, melhor de tudo, ele também tem amigos: três daquele lado, três deste lado, divisão exata, perfeito!

Ela, que não é boba nem nada, começa todo o ritual do flerte, é craque nisso, gesticula como nunca, mexe no cabelo, sempre com muita classe. Até que os três resolvem olhar para o local certo: a mesa delas (na verdade ela nem viu a cara dos outros dois, só tem olhos para o “dela”!).

Alguns olhares trocados, ela vai ao banheiro, aquele que fica do outro lado do bar, só pra dar uma caminhada. Ele nota o movimento, eles trocam um sorriso, ela fazendo o tipo tímida. Depois de mais algumas cervejas e olhares, é a vez de ele ir ao banheiro, aquele perto da mesa dela. “Esperto o rapaz”, ela pensa. Quando ele passa ao lado da mesa, ela se vê ainda mais apaixonada. “Além de ser meu número, tem estilo o dito cujo”: ele está vestindo uma camiseta verde musgo, “destino existe”, brinca ela com as amigas. Pelo estilo, pela cara de alegre e pela quantidade de assunto lá naquela mesa, eles têm tudo a ver, as amigas concordam.

Depois de algumas horas (ou cervejas, é assim que ela conta o tempo), começa um movimento estranho na outra mesa, e os meninos de lá resolvem se juntar com as meninas de cá.

Chegam de maneira inteligente, ponto pra eles já de começo, fazem um comentário divertido, brincadeira sempre ajuda. Ela não se aguenta pra saber tudo sobre ele, mas não pode abrir o questionário, seguem conversando amenidades, todos os seis conversando civilizadamente e ela cada vez mais encantada com o conteúdo do rapaz. Olhares se trocam novamente, tudo indo muito bem, até que as perguntas comuns começam.

Quantos anos? 33 (“perfeito”). Formado em quê? Parei a faculdade no ultimo semestre (“hum”). Faculdade de quê? Biblioteconomia (“mas por que que começou mesmo?”). Morada? Com os pais (“ih”). Já morou sozinho? Nunca (“aiaiai”). Faz o que da vida? Tô desempregado faz seis meses (“tudo bem, crise mundial”). Aí ele completa: nem tô procurando, se for pra ganhar 600 reais é melhor ficar sem nada.

“Tu vive de mesada?!” Até que demorou pra ela deixar de ser gentil, pensam as amigas. Ele fica meio sem jeito, alguém conserta a história, e segue tudo, digamos assim, quase normal. Depois de tanta informação relevante, o flerte foi-se ao léu, acabou o encanto. Pagar motel? Nem pensar. Se ela ainda tivesse 20 anos, naquele tempo no qual quantidade era mais importante que qualidade, vá lá. Mas agora?

Melhor voltar pra casa, ver TV e deixar a lingerie verde musgo pra próxima.

A crise dos 30

Noventa por cento das mulheres que conheço passaram pela crise dos 30 – preciso conversar com algum fisiologista, psicólogo, pai de santo, para entender por que isso acontece. Enquanto não encontro nenhum especialista, sigo com minhas teorias.

Nos últimos tempos ouvi vários relatos da crise dos 30. Nesta época da vida nos damos conta de que a lei da gravidade realmente existe, príncipes encantados não; que maquiagem é fundamental, carreira é importante e cabelos brancos não são privilégios do Walmor Chagas e do Cid Moreira.

É claro que tive a minha própria crise, que aliás começou lá pelos 28 anos. Sabe quando a gente para na frente do espelho e se pergunta: “Tá, e aí? Fez o que até agora? Tá feliz? Tá te sentindo bonita? Este é o cara da tua vida?”. Inevitavelmente as respostas vão surgindo; com elas vem o surto; com o surto vêm as decisões. E estas decisões acabam se refletindo também na vida de outras pessoas, seja mãe, marido, namorado, sócio, tatuador ou vizinho (sim, porque toda crise dos 30 tem trilha sonora e em volume muito alto).

Resolver mudar tudo, desde escolher um novo modelo de sutiã até tirar a aliança do dedo, faz a gente ir lá no fundo do poço. Quando voltamos, vemos que tudo que vivemos até então valeu a pena, mas que recomeçar às vezes é necessário, que faz bem para a pele, para a alma. E tendo amigas para compartilhar informações, decisões, descobrimos que todas se questionam, cada uma a seu modo, é claro, mas assim fica mais fácil encontrar soluções.

Minha mãe diz que quando tinha 30 anos estava no auge e não sabia. Bom, graças a ela descobri a tempo que estou no auge! Fui no fundo do poço, sim; mas voltei com tudo. Nos 30, muita coisa fica mais clara, encontramos muitas respostas, embora a gente siga se questionando e surjam novas dúvidas. Afinal, será que o tonalizante realmente esconde os cabelos brancos?

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