By Gilka
Sem entrar em muitos detalhes, há poucas semanas eu resolvi por um basta a uma relação de trabalho improdutiva e finalmente procurar um novo emprego. Ainda cumprindo o aviso prévio, comecei a perceber coisas que não percebia antes. A subordinação mascarada de lealdade. Humilhações aceitas em troca de segurança financeira. Eu poderia ter procurado uma saída antes, mas não o fiz por que aparentemente os problemas não eram tão problemáticos assim. Foram dez anos onde tudo era quase lindo, sem realmente ser.
Houve também aquele namoro de quatro anos que alimentava minha paranoia enquanto eu fingia não saber das amantes e flertes. Até o dia em que eu fui obrigada a fazer um desvio acidental e passar na frente do edifício dele para ver a porta automática da garagem se abrindo e revelando a outra bem sentada no banco do carona – às sete horas da manhã! Apesar de ter visto, até hoje não sei se enxerguei todos os cantos sombrios daquela experiência.
Antes que eu passe por estúpida, vou parar a lista de relatos por aqui. A questão é simples: tem coisas que a gente não enxerga. Tudo bem, a questão, na verdade, não é simples. A questão é por que resolvemos não enxergar certas coisas. Será esta cegueira uma virtude ou uma grande limitação?
Não enxergar pode ser um princípio de sobrevivência. Uma maneira de tornar a vida mais confortável e aceitar realidades que talvez não sejam tão fáceis de mudar. Mas depois duas experiências como as que relatei, comecei a me perguntar sobre outras coisas que estariam esquecidas na periferia do meu campo de visão.
Imagino que teus olhos estejam se virando para os lados agora. Os meus estão, ainda que a imagem não seja muito clara.