Não sei mais o que fazer. Por que tenho alimentado esse sentimento febril que toma conta de meus pensamentos e da minha carne? Não consigo justificar! Por que quando a possibilidade de sofrer se aproxima sinto aquele estremecer interno que me impede de ir na direção contrária? Nem tento me conter… preciso realmente de ajuda (alguém?). É a encrenca se aproximando e eu mergulhando com tudo mais uma vez.
Deveria eu resistir às investidas daquele menino-homem, estilo Don Juan, que com sua carinha de bebê e mãos obscenas pretende me arrastar ao inferno? De fato – estou me lembrando bem agora –, tudo nele soa pornográfico, não apenas os dedos decididos em busca do meu sexo. Ou será apenas o meu reflexo em seus olhos?
Me deixei perder em sua boca, no magnetismo de seus braços e no seu corpo sedento pelo meu. A razão sinalizava para eu me afastar e, no momento em que pude decidir pela continuidade daquele relacionamento sem pé nem cabeça, adivinha só… Dei para trás. Cedi. Pensava “não”, dizia “sim”. Literalmente, para o deleite daqueles que gostam de me ver ruir. E aquela luta interna entre avançar e interromper só fortaleceu mais meu cego desejo. “Agora é tarde”, dizem… Será que realmente não há tempo? Afinal, uma parte de mim não quer querer tanto assim… Por que a ignoro, se sei de antemão onde tudo vai parar? O que farei então com as inevitáveis lavas em meu peito? Com meus orgasmos múltiplos que no final só servirão para multiplicar também a minha dor? Encontrarei ainda alguma forma de segurar meus impulsos reincidentes e meus movimentos cada vez mais escravos?
Quanto mais eu vejo o quanto temos em comum e percebo que suas fantasias cruzam com as minhas, mais me envolvo e o controle me escapa entre os dentes, em uma libertação conjunta aos meus gemidos – por enquanto, de prazer. Terá valido a pena quando eles se transformarem em angústia?
Imagem: Nicolas Raymond/Stock.xchng